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Povos indígenas ganham primeira graduação em Licenciatura do sul do País

iFlorianópolis (SC) - Povos Guarani, Kaingáng e Xokleng que vivem na região Sul da Mata Atlântica iniciam neste semestre, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a primeira  graduação em licenciatura para professores de educação indígena do Sul e Sudeste do País. O curso superior contempla alunos de Santa Catarina e de outros estados, como Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, que não dispõem desse tipo de formação. Seguindo o método da pedagogia da alternância, que prevê o aprendizado teórico em sala e períodos de aplicação prática nas escolas das aldeias, as aulas iniciam junto com as inscrições, nos dia 14 e 15 de fevereiro, no Departamento de História da UFSC.

Um total de 120 alunos aprovados no Vestibular, 40 de cada etnia, devem confirmar sua inscrição, matriculando-se no Curso Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica. A recepção dos calouros está programada para o dia 14 de fevereiro, às 14 horas, o auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Para que o curso fosse aproveitado em sua capacidade máxima, a UFSC realizou a segunda e a terceira chamada e todas as vagas foram preenchidas. A maioria já atua em escolas de aldeias, mas há também jovens indígenas recém-egressos do ensino médio e lideranças comunitárias. Os alunos devem apresentar comprovante de conclusão do segundo grau e declaração de pertencimento a uma comunidade indígena assinada pelo cacique e pelo aluno, cujo modelo se encontra na página do curso:licenciaturaindigena.ufsc.br.

Com duração de quatro anos, a formação desses alunos-professores será voltada para o eixo norteador Territórios Indígenas: Questão Fundiária e Ambiental no Bioma Mata Atlântica. Até o quinto período, os acadêmicos estarão separados por etnia, cursando disciplinas específicas para sua cultura. Nos últimos dois anos, eles se habilitarão em uma das quatro terminalidades, que são: Licenciatura da Infância, com ênfase no ensino fundamental; Licenciatura das Linguagens, com ênfase em Línguas Indígenas; Licenciatura em Humanidades, com ênfase em Direitos Indígenas e Licenciatura do Conhecimento Ambiental, com ênfase em Gestão Ambiental. O tempo de estudo será alternado entre o tempo na universidade, com aulas na UFSC, Museu Universitário e outros locais em Florianópolis, nos meses de fevereiro e maio, e o tempo na comunidade, quando serão realizados estudos orientados, estágios, projetos de pesquisa e de intervenção comunitária nas escolas das aldeias de origem dos graduandos.

Antigo sonho das comunidades indígenas, de professores e pesquisadores da área, o Curso foi implantado por uma comissão interinstitucional, a partir de um projeto do Departamento de História aprovado pelo Programa de licenciatura Indígena do Ministério da Educação, explica a coordenadora Ana Lúcia Vulfe Nötzold, do Departamento de História. O Pró-lind financiará, entre outras coisas, hospedagem e alimentação para os alunos. Os parceiros da UFSC incluem os Cursos de Antropologia (que vai ministrar disciplina de mitologia indígena) e de Engenharia Ambiental, além do Museu Universitário, ligado à Secretaria de Cultura e Arte, que cederá professores e infra-estrutura paraatividades pedagógicas, científicas e culturais, conforme Maria Dorothea Darella, pesquisadora do Laboratório de Etnologia Indígena. Como parceiros externos, a Secretaria da Educação flexibilizará o horário dos professores da rede pública e a Funai financiará o deslocamento dos índios das aldeias para Florianópolis. Entidades como a Capi (Comissão de Apoio aos Povos Indígenas), CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e Conin (Conselho de Povos Indígenas) participaram de todas as decisões de modo a preservar as especificidades e interesses das etnias.

Em Santa Catarina, 9.200 pessoas integram a população indígena, 2.812 pertencentes à faixa etária escolar entre um a 14 anos. Oferecendo formação superior pública e gratuita, o projeto cumpre a Lei de Diretrizes e Bases de 96, que determina a graduação dos professores de escolas indígenas. Em todo sul e sudeste do Brasil, somente a Unochapecó oferece um curso específico para Kaingangs e atendendo apenas professores de Santa Catarina. Sobre o eixo norteador, a coordenadora lembra que a questão territorial está ligada ao direito do indígena de existência enquanto povo. “Quando se fala em acesso à cidadania, um dos direitos fundamentais é o de poder existir, que está ligado à questão da identidade e do território tão prementes hoje para esses povos”, enfatiza.


Assessoria de Comunicação da UFSC

 

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